Poetas sem Fronteiras
Blogging in the Wind

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Casa das Pedras



I
Ontem, o passado
Chuvas inocentes
Devastam plantações
Rios inocentes
Carregam
Cadáveres inchados

Em falta o aborto
Ficam no ventre a ver
Embotados
Os filhos esquecidos

Hoje
O passado
Há milênios sem a neve
O astro general reeditava
A estória de uma fase

Mexia em tudo na frente do quase

O QUASE

E a peste não é nada
No rodar sempre constante
Das notícias nos jornais

A vigia seguia seu curso
E o polícia não falava
- as eleições iam longe

Homem-espera
Fica na sua terra
Na prática e devoção
"Água Senhor por piedade!"

Do alto seco
A resposta seca

Para a pequena Igreja
O sol não é concorrente
Do Calor Oficial cheio de graça
Aceso nas velas do crente

O vegetal
Suicida
Uma verdura consumida

Homem folha forragens
Ar
O mais importante
- o boi não pode cagar

O sol e a doença rachavam tudo
Á falta de armas
Escudos
Até as almas

E a ladra ria
Inha inha
Ressoava nos morros e mortes

Salve Mesquinha!
O Senhor é convosco!

Explodia sem pólvora
O aviso impresso fúnebre
Sempre imune às desgraças

O calor aumentava, a morte crescia
A sede cedia
                      A fome parava
                                               Fedia

II

Maria Jesuína

Da criação sem registro
Começou com o Cristo
Edipiana milenar e sacana

O corpo primitivo
Um anjo fudeu sangrou
E subiu

Em tempo de vida
Maria pariu

O fruto desembrulhado
Dorme com ela original
Preso apertado nos braços
Excêntrica espiral

Maria Jesuína debutante

Exaurida no fiar elegante
Da vida permitida
A força finda atrofiada

Filha de pai-santo
Não é muda não é cega
Não escuta  e não nega
O catecismo
- revista do quartel

No rosto magro
Lágrima é novidade
E aquela
Rolou com rapidez
Sumiu

Esperança?
É a sua criança
- aquela negra de branco levou

Maria Jesuína, retirante

Em longa escada de veludo
Tecida em pentelho pontudo
Olha rasgar a eternidade
- sua paternidade

O rosário despetalando degrau abaixo
Levanta a mulher a primeira vez

A segunda cai de bunda
De cara no asfalto
Igual à máquina, pára embandeirada
Põe gasolina, lubrifica a vagina
E sai esterelizada

(Sem propaganda não anda)

Início Branco
- porta do Castelo

O guindaste junto o desfeito
Que cai a terceira vez
Por cima do prato feito
- relógio, livro, cama

Maria Jesuína, uma dama

III

A Casa das Pedras
Como sempre na seca
Nunca uma centelha
Pintura - verde maduro

O sinal de tráfico na telha
Verde-amarelo-vermelha

O som alegre da melodia reinante
Do dia a dia
Nos orgasmos remunerados

O quarto do mulherio
- de grade cinza
   o catre imenso
Atmosfera, bastante incenso

Espelhos em círculos espalhados
Esperam a sobra dos panos esporrados

IV

Maria Jesuína, noviça

No terceiro mês lhe dão a sua vez
Número trinta e um
Vaga no espaço real infinito...

Cânticos torturas
Gemidos  e risos
Num carrossel de ginetes furiosos

Pra cima e pra baixo
Pra cima e pra baixo

A voz cala a todos
Indica o lugar o colocar
hífen, humo, hímem
Declinando

 (O tilintar dos papéis a transbordar 
   os cofres do bolsão)

Maria Jesuína profanada

No round da floresta estatizada
Pelo Diretor dono do canteiro
No dia do santo jardineiro

- a relva macia recebe o líquido pegajoso
   que vai molhar a mãe-puta
   onde se oculta o ciclo da tristeza

(o rumor crescente espontâneo
  a Casa das Pedras não escuta
  no telhado desperta medo este segredo
  este som subterrâneo)

Ordenada, Maria Jesuína se habitua
Na anca farta a numeração nova, crua
A ferro cinza e fogo bastante alto

Do quarto atual na parede


O retrato de Leopoldina não ofende
Jesuína.  Ela reverencia, depende

Maria Jesuína, amazona

Sussurra o hino das quedas
Ouvido e repetido na Casa das Pedras

Seu confessor na farda de ouro lhe sorri