Ontem, o passado
Chuvas inocentes
Devastam plantações
Rios inocentes
Carregam
Cadáveres inchados
Em falta o aborto
Ficam no ventre a ver
Embotados
Os filhos esquecidos
Hoje
O passado
Há milênios sem a neve
O astro general reeditava
A estória de uma fase
Mexia em tudo na frente do quase
O QUASE
E a peste não é nada
No rodar sempre constante
Das notícias nos jornais
A vigia seguia seu curso
E o polícia não falava
- as eleições iam longe
Homem-espera
Fica na sua terra
Na prática e devoção
"Água Senhor por piedade!"
Do alto seco
A resposta seca
Para a pequena Igreja
O sol não é concorrente
Do Calor Oficial cheio de graça
Aceso nas velas do crente
O vegetal
Suicida
Uma verdura consumida
Homem folha forragens
Ar
O mais importante
- o boi não pode cagar
O sol e a doença rachavam tudo
Á falta de armas
Escudos
Até as almas
E a ladra ria
Inha inha
Ressoava nos morros e mortes
Salve Mesquinha!
O Senhor é convosco!
Explodia sem pólvora
O aviso impresso fúnebre
Sempre imune às desgraças
O calor aumentava, a morte crescia
A sede cedia
A fome parava
Fedia
II
Maria Jesuína
Da criação sem registro
Começou com o Cristo
Edipiana milenar e sacana
O corpo primitivo
Um anjo fudeu sangrou
E subiu
Em tempo de vida
Maria pariu
O fruto desembrulhado
Dorme com ela original
Preso apertado nos braços
Excêntrica espiral
Maria Jesuína debutante
Exaurida no fiar elegante
Da vida permitida
A força finda atrofiada
Filha de pai-santo
Não é muda não é cega
Não escuta e não nega
O catecismo
- revista do quartel
No rosto magro
Lágrima é novidade
E aquela
Rolou com rapidez
Sumiu
Esperança?
É a sua criança
- aquela negra de branco levou
Maria Jesuína, retirante
Em longa escada de veludo
Tecida em pentelho pontudo
Olha rasgar a eternidade
- sua paternidade
O rosário despetalando degrau abaixo
Levanta a mulher a primeira vez
A segunda cai de bunda
De cara no asfalto
Igual à máquina, pára embandeirada
Põe gasolina, lubrifica a vagina
E sai esterelizada
(Sem propaganda não anda)
Início Branco
- porta do Castelo
O guindaste junto o desfeito
Que cai a terceira vez
Por cima do prato feito
- relógio, livro, cama
Maria Jesuína, uma dama
III
A Casa das Pedras
Como sempre na seca
Nunca uma centelha
Pintura - verde maduro
O sinal de tráfico na telha
Verde-amarelo-vermelha
O som alegre da melodia reinante
Do dia a dia
Nos orgasmos remunerados
O quarto do mulherio
- de grade cinza
o catre imenso
Atmosfera, bastante incenso
Espelhos em círculos espalhados
Esperam a sobra dos panos esporrados
IV
Maria Jesuína, noviça
No terceiro mês lhe dão a sua vez
Número trinta e um
Vaga no espaço real infinito...
Cânticos torturas
Gemidos e risos
Num carrossel de ginetes furiosos
Pra cima e pra baixo
Pra cima e pra baixo
A voz cala a todos
Indica o lugar o colocar
hífen, humo, hímem
Declinando
(O tilintar dos papéis a transbordar
os cofres do bolsão)
Maria Jesuína profanada
No round da floresta estatizada
Pelo Diretor dono do canteiro
No dia do santo jardineiro
- a relva macia recebe o líquido pegajoso
que vai molhar a mãe-puta
onde se oculta o ciclo da tristeza
(o rumor crescente espontâneo
a Casa das Pedras não escuta
no telhado desperta medo este segredo
este som subterrâneo)
Ordenada, Maria Jesuína se habitua
Na anca farta a numeração nova, crua
A ferro cinza e fogo bastante alto
Do quarto atual na parede
O retrato de Leopoldina não ofende
Jesuína. Ela reverencia, depende
Maria Jesuína, amazona
Sussurra o hino das quedas
Ouvido e repetido na Casa das Pedras
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