Castelo é uma hierarquia
A escada começa na torre
É escala dolorida
A volta é a fuga
Tocata de Bach
E a escada, branca
De vidro amarelo faiscante
Moído no engenho de mel
Pertinho do céu
O alpinista é negro na testa
Na face pintada e morena
O traço costurado a pena
Pena de morte
Calçando botas de prego
E os olhos cegos de tanto olhar
O castelo conserva fantasmas
Armas da asma secular
Família tradicional
E o homem pára
Observa outro lado
Em vão
Tudo no chão é igual
Bem separado dos jardins
Anda sobre o nobre tapete
Sobe e pisa a superfície lousa
Tranparente de luz
- o reflexo é o sexo: mulher
vestida até o pescoço da cisma
A escada é mulher
Pura até quando a pureza é cisne
Ordena
O ordenado fica mudo
Não vê segundo degrau
Certeiro passo impresso
Na pressa da arrumação
A escada então rola
É rolante
Desce adiante do castelo
Assustadoramente
Leva nas entranhas pés arranhados
Sentindo medo descalços
Do sangue pisado entre os dedos