Poetas sem Fronteiras
Blogging in the Wind

domingo, 1 de julho de 2012

Ode à Rainha


Castelo é uma hierarquia
A escada começa na torre
 É escala dolorida
A volta é a fuga  
 Tocata de Bach

E a escada, branca

De vidro amarelo faiscante
Moído no engenho de mel
Pertinho do céu

O alpinista é negro na testa

Na face pintada e morena
O traço costurado a pena

Pena de morte
Calçando botas de prego
E os olhos cegos de tanto olhar

O castelo conserva fantasmas
Armas da asma secular
Família tradicional

E o homem pára 
Observa outro lado 
Em vão
Tudo no chão é igual
Bem separado dos jardins

Anda sobre o nobre tapete
Sobe e pisa a superfície lousa
Tranparente de luz
- o reflexo é o sexo: mulher
  vestida até o pescoço da cisma

A escada é mulher

Pura até quando a pureza é cisne
Ordena

O ordenado fica mudo
Não vê segundo degrau
Certeiro passo impresso
Na pressa da arrumação

A escada então rola
É rolante

Desce adiante do castelo
Assustadoramente
Leva nas entranhas pés arranhados

Sentindo medo descalços
Do sangue pisado entre os dedos

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