Poetas sem Fronteiras
Blogging in the Wind

sábado, 3 de agosto de 2013

Prólogo


"Em vida,
eu jamais teria sido tão cortês,
tal era o meu desejo de sobressair."
Dante Alighieri - Purgatório Divina Comédia 
(1265 // 1321) 


A gente morta
A fome e o pé descalço
O revólver o pé descalço
- A conjuntura

A gente morta
A fome o pé descalço
O revólver e o pé 
- A transição


 Rompeu-se o alicerce
A aranha já não mais tece

Na roda-terra é dia
De cabeça pra baixo
Parou
Na lama no sangue

Ah! Os pulhas que se arrumem
Uns aos outros se atirem
Nunca ninguém soube nadar
Só rezar comprar
Olhar olhar olhar

Apodrece sem água 
O vegetal insepulto
Nem choro nem flores
Nem nada vela
O cadáver insuportável

Na explosão de vermes atônitos
Forma-se a última coluna
- batalhão agora incerto

Dois a dois

Rompeu-se o alicerce
A aranha já não mais tece

No sino de bronze
A reza oficial 
Grita:
O fogo alto
Fumaça espessa
Asfixia

Lá o calor é eterno
Amém!
Todos para a eternidade!

E a canalha desfaz-se
Vira pó

No sol vivo atômico
Vale menos que um vômito
Presos numa poça só

Dois a dois

A cinza negra desenha
Eleva-se poluidora
O quadro do museu tropical

Nenhum comentário:

Postar um comentário