Poetas sem Fronteiras
Blogging in the Wind

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Plim Plim


 

É fantástico
A bunda de plástico
A pica de ácido
O cu de vidro!!! 

(Cante com a musiquinha do Fantástico)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Verônica



                                 "sem o corpo
                                   a alma do homem
                                    não goza"
                                      Adélia Prado


De joelhos em cima de ti
Eis o dono do teu pano

Modelo o rosto neste hábito
Para ensopar a tenda do teu corpo
Salgando o altar da tua atitude santa

Santa!  Santa!  Santa!

Eras santa
E atiravas pedras
Quando ainda lambias
O espírito de Abraão

Ou seduzias ansiosa
A sacerdotiza no templo
E te ocultavas nos cânticos
Mantendo aceso o incenso
Censor da minha erva daninha

 Salva-me Rainha!

Por que me retardas tanto
Ao arranhar tuas nuvens
Neste tronco ensangüentado?





                                      

To the Angel

   

Hic et nunc!?

Te ver é odiar a circunstância
       que te cerca

 Levar teu beijo, constrangido
  ainda vale a pena
        Capital

  E o pano
    Rápido!

Primavera



Do seu continente úmido
                      ouvi do sonho
                           sei por querer

Quem sabe a cor do perfume que recobre
                                todos os sentidos?

               À flor da pele o jardim
                             acolhe os corpos nus
                
       Eu me estendo em você
                      como as raízes do campo

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O mais santo


                                                          Ilustração: Hélio Jesuíno

fim-de-semana
     merece violência

  Dentro de tudo
               devoluto
    amarro seu pedestal
    entre coxas congeladas

Os recônditos evidentes, eu linguo
provo detalhes de uma  deusa negra

Eu vôo você nas costas
de um corvo amordaçado

        Sempre mais!
        Sempre mais!

Diante


dos ramos mortos
                 à míngua na manhã
                         de domingo
    como sòzinho o silêncio do sábado

          a hostilidade consagrada 
          do pão que o padre
                                          amassou





                      

Ramos



Nasci perto de uma pedra 
        no Jardim Botânico

Quando eu tinha dois anos 
         o pediatra descarregou
          o revólver dentro do quarto

Desde então
           cresceu em minha mãe 
                     uma corcovadia

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Casa telas & janelas

Brilham os ratos
e bordados nos sapatos
Brilham insetos
alimentando sapos
  Zé Ramalho e Lula Côrtes
  in "Noite Preta"
                       


                                  Uma casa de praia
                                  Que se preze 
                                  Além do mar obrigatório

                                  Há que ter telas
                                  Sintéticas e lagartixas
                                  Nas janelas

                                 Uns insetos
                                 Bastante
                                 Diante de luz
                                 Amantes
                                 Cegos e certos
                                 Dos vôos frustrados



O que pretende camponês nesta cidade?  Ter o
nome registrado, chamar-se Faustino e pertencer
a uma classe?

"Fausto!  Questiona esse martelo
 Observa o jardim, a destruição
          
  Fica no campo afiando a foice!
  Fica no campo afiando a foice!"

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No  reflexo do sol, o espelho obscurece os olhos
e não muda nada.  Daí o encantamento da sombra
acolhedora da poesia.  Oremos!

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Na cozinha, a carne está exposta esperando.  Com
óleo fervendo, serve de pasto, sangrando, morta e
servil ao moinho que a corta.  Do telhado, as quatro
pás trituram, movidas pelo vento, a água.  E promovem
a irrigação.  O moinho tem mãos e nelas uma serva que
não custa nada.  Roda pelo simples rodar das coisas feitas
para rodar, como o crucificado.  O vendaval, este sim
inocente, mesmo assim varre a escada, deixa  o sal que
o calor liquidificou na madeira pra soprar a coisa apodrecida.
O vento leva e não discrimina cheiro!
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O sangue do homem fertiliza o pequeno pensamento burguês.
Idéias e alimentos são  retirados do luxo envoltos em papéis
obrigatórios para serem encinerados.  No início era o Corpo!

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Depois vieram os trapos, arranjados às pressas.  Sempre. Toda vez
que o modo de produzir as roupas desnudava o objeto.

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Há casas códigos & janelas em qualquer comunicado.  A síntese
é uma mentira descarada ao afirmar-se filha da fome com a comida.
No início eram os meios!  E tudo ficou realmente para depois ser
acertado.  Após leitura de clássicos poeirentos, embutidos, enfileirados, 
aguardando justificação para o significado de como comer  dormindo
sem mijar no lençol imaculado.

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A casa de praia tem de contar com o supermercado da cidade e do
campo.  A estrada berra seus preços acessíveis através das bananas
dadas e verdes.  No início do tempo tinha o dia santo!  A cara suja da
criança informa que a queimada adianta.  Que das cinzas impressas
posteriormente surge um bocado de tipos assimilados.  Esses putos!
O dinheiro.  Quem coleciona a cara desses putos!  No início eram
moedas de barro.  Mesmo sempre moinhos!

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No início era o verbo!  Intransidireto.  O inseto que pousou na maçã
foi devorado junto com o fruto proibido.  Da digestão de um sono
profundo, Deus pegou a Mater e gerou o Pai, masturbando-se diante
da sagrada família.

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Já de início aparece o resto.  Na casa de telas nas janelas, a tradição é
mantida varrendo-se conchas mortas dos portais de entrada.  Lá fora,
ficam os insetos.  Como no Paraíso.

Victor Jara

           
                                                                    Chile
                                                                          11 Septiembre 1973


                    "muy bien 
                     voy a preguntar
                      por ti  por ti
                      por aquel..."

Em tuas veias abertas
  te recordo agora
    e na hora da morte junto
            dos companheiros

No Estádio Nacional!  Sim!
      que é preciso ver-te
             verde 
                Victor
                    verter

      diversos os pés
 o sangue de Manoel Garrincha 
             dos Santos   

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Pirâmide Invertida




Na individualidade triangular do ápice
Sujaremos com terra a púrpura pegajosa

Do lado do branco pobre e básico
O índio e a febre amarela
O negro e a festa trágica

Em breve trajetória dialética
Mudará o artista paralelas intocáveis
Empurrando as listas-retas-pontilhadas
Tingindo a santa trindade mística

Pois o triângulo é pedra e lápide
Do tumulto do sustento insuportável
Desses faraós reclassificados

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Democracia



A musa abusada
Veio jantar sem calcinha

Morreu de frio na bunda

Paisagem de Ícaro



No vôo do menino
A rosa-dos-rumos no risco
Da própria mão

Em torno de si
Redemoinho de rei
De braços abertos, angústia
Tudo de novo no vendaval

Ali

O arco-íris de Ícaro
A projetar para sempre
A sombra do seu passeio

E paira

No poço de Narciso
Transborda escuridão

Eis

Raios-raízes no relógio de Apolo

Velozmente

Luz e calor
Sob manta de nuvens

Espuma de lágrima e alegria
Nos cabelos da Aurora

Circo

                            
No incêndio
O que mais importou
foi aquela bíblia queimada
No cap. 22 do Êxodo
um número de telefone
anotado

Como retirante


Quando saiu
      bateu a porta

Meus olhos fechando
           como guilhotinas

Ah!  Dolores Duran
        o som das coisas
                            findas

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Gaza



O menino palestino
Aguarda o cogumelo explodir
E acionar a plataforma

Despido, corre na direção
alternada

"Cubra-me de aço
  com seu tecido
  estamparei minha pele"

A raiva retida na boca
Espreitando Godot

A nuvem e a Praia Vermelha




A nuvem com cara de soldado
Firmou-se no céu
Tapou-me o sol

Com o Sudeste soprando
Desfazendo-se em outra máscara
Foi lamber o Pão de Açúcar
 Como se o nimbo desvairado
Sugasse no bico da rocha
O seio só da sua cidade

Mais adiante, um novo sopro
A ordem e o ato irreversível

Em mil baionetas caladas
A nuvem suicidou-se no mar

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A Era Megera

                                             a Cláudia Leone 



    Embalando berço cavado
    No ventre da tartaruga

    Ondas de neón carregam
    Pedras preciosas até
    A raiz dos cabelos
    Das Sete Quedas

    Rompendo silêncio do céu
    A dinamite, não a fé
    Remove montanhas

Espécimes mergulham na extinção

    No registro das águas
    O vernissage amazônico

    De acrílico sôbre pele
    O último arco-iris
    De Iracema mon amour

A street car named disaster



A musa-aranha
o Bonde andando
apanha