Poetas sem Fronteiras
Blogging in the Wind

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Cover girl


A pele de Martha é rara
Sobretudo capa teto
Placenta de seda carne
Da palavra revestida

Frente também é verso
Dos abusos do poema
Selo colado com um beijo
Por cima da carta detonada

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Um material de pesca




Se uma aranha aparecer entre os cogumelos de
um molho russo servido com requinte numa
reunião informal, aprecie a novidade, apenas
prove e sorria compreensivo. Com o tempo a 
digestão ensinará seus intestinos a não sentirem
nenhuma diferença e a normalizarem o esgar.
Você poderá continuar a discorrer sobre o 
assunto preferido do dia, ou da noite, independentemente
das repetições que, fique certo, ninguém observará.

Procure se convencer!

Certos tipos de inseto absolutamente não
aparecem em lugares dedetizados. Somente em 
praças públicas é obrigatória a imunização.
Baratas, por exemplo, não trafegam em aeroplanos,
por isso não são seqüestradas nem pagam
passagem pra poder circular nos canos de
plástico que substituíram os de chumbo, os de
madeira da antiga maneira de conduzir o alimento:
sua comida. A outra alimentação não perturba a ordem.
Como você está vendo, refere-se à entomologia, onde
cada lugar é um inteiro edifício de uma sociedade
feita em pedaços, cujas fibras, as maiores, já têm o tecido
pronto para vestir os corpos que servem de adubo.

Nunca chegue adiantado!

Batendo o ponto em relógios eletrônicos, ou
sendo calcados os dedos, os que ainda possuem,
os polegares marcam os papéis timbrados no registro civil.
São computados em pilares para garantir a constituição
de um dos lados, embora sem saber qual o naco da pirâmide
deve ter prioridade a fim de manter a geometria do burocrata intacta.

Se uma aranha aparecer na comida, agache-se, procure
estudar a teia entre os pés da mesa e não olhe os sapatos.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Aliterações


Em Padre Miguel, Copacabana, na Laoinha,
bairro errado de Belo Horizonte, na cidade de
Bacabal do Amazonas, este Estado cuja estrada
terá muitas ruas. E repetição de Porto Alegre, do
mato verde & mitos metidos dentro do monte
escamoteado. A arte com as partes escolhidas,
que continuam a sair pela praia, junto dos
banhistas e salva-vidas, a arte escorrendo junto de
mim embalsamada, se esvaindo.

Aí ele se jogou no mar
Com a pedra nos pés

Tão certo que errado
Retornou à rua poeta
Como cadáver inflado

Tão cheio de si
Que esvaziou-se
Pra flutuando
Sacolejar-se
Das injeções de formol

Quando a rua salta e me deixa sentar em suas
beiradas, sei que vou sair sem sandálias. A cada
curva a rua avança sobre edifícios quase capotando
em cima de mim - que me limito contando postes a dizer,
é madrugada! Embora seja dia, em boa hora as pessoas
assustadas espelhem para o asfalto com pena de meus pés.


Quando a rua e eu estamos abraçados e chove, vamos
escorregando pois ela fica onde durmo, e cobre.
Numa ladeira longe da faixa para pedestres.
Como Sísifo e sua subida e sua trouxa. Exemplo: 
tapar infiltração de limo no ralo do curral.
FORMOL. Ler na página passada que Sísifo se fode
mas que insiste no mito de pedreiro trabalhador. Reler
que no começo rasgou muito papel escrito junto da cama
estrutural. Reaver o fim da linha usada como meio do seu
cansaço - o morro de medo e. Acabou-se tudo! Estas palavras me fazem sentir mais embaixo, um pouco acima do senador nazareno, aquele que saiu voando com a minha pedra coroada na cabeça para me calçar e salvar. 

Eu e a rua.

Que fomos embrulhados na inauguração da grande exposição celestial do poder inquisitorial de aquisição das santas almas. De tardezinha, sem ninguém ver, retornou novamente a retornar para sempre, chamando atenção
de um operário de volta da greve, entrando na fábrica,
como que desgarrado no puto partido francês.


Às vezes se pode saltar na rua e pegar ela andando.
Ao mesmo tempo. O cabra da peste argelino que ousou
morrer num semovente, para demontrar ab absurdo a eternidade do descanse em paz do deitar literário. 

Ao mesmo tempo.

A guerra acabou ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo?
Nas castanholas e nos dedos. Não sonho mas tenho outros vícios.

O passarinho tece
O tapetão
O passarinho mexe
O paredão

Pro ovo fazer o ninho
Pro ovo fazer o ninho

Nas andanças eu li um filme sussurando uma
mulher que pacientemente se enche com cacos
de vidro para esperar o grito do amante embriagado.

Ao mesmo tempo escuto com ouvidos no chão, 
na rua, e lá sei se sou de todo coração brasileiro.

Escute! 

Quando se sai com a rua ela sai se escoando
com a gente ao mesmo tempo.

O pedágio do poeta!

Quando o que se tira
É o que se dá
A mais-valia rasteja
Em direção aos bueiros

Mesmo se o dízimo for um tempo a menos a 
mim destinado, não aceito! Ao mesmo tempo
do relógio do juíz decidindo pelo poderoso, recuso
o tempo ao mesmo tempo!
Salvo quem se mata subvencionado por esta danastia, 
o morrer não tem arbítrio nem formalidades.

Sigo deitado catando pedras portuguesas pra desfazer
desenhos geométricos. Tomo banho com os garis
cor-de-abóbora e me ensabôo com restos de cachorros
vagabundos. E ainda vejo as roupas do passado com a religião nefasta dos que se afastam dos meus pés encarcerados.

Assim mesmo acho graça sem Deus e não morro.

Me amarro e me visto
Apago listras zebradas 
Do meio da rua
Eu uivo e vejo a baba
Nas costas do futuro

Ave! Que voa como um vizinho prestativo, sem outras preocupações além da fechadura da gaiola.

Voa meu companheiro!
Eu te trago com o cigarro
E te levo pro meu peito
Te sopro nas estrelas
E sigo montado domando
A máquina de escrever
Aos pulos e palavrões

Cuido da rédea pisando o estribo, pois estou
colado na rua que segue sorrindo na minha
frente, aceitando belos ratos e gatos fugidos das
grandes damas.

Os abraços me seguem alternados e pensam
que vou na direção do dinheiro guardado nos bancos da cidade. Os abraços me seguem alternados. Os abraços 
congestionam.

Não pare, não pare!
Não fique parecido!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Santanás

                                    
                                      "Pour ton honneur à ne paraitre
                                                    Jamais à la télévision
                                                    Thank you Satan"
                                                            Léo Ferré
 

Só os normais
Estranhos seres
São felizes

Não sofreram mãe louca
Pai bêbado e suicida
Filho delinqüente
Não amargaram a casa dos outros
Nem choraram doença desconhecida
Eles
Fartos de roupas e sapatos
Viveram os dezessete rostos da alegria

Eles que nasceram com a bunda para a lua

Eles
Os normais
São amados até o punho

Homens vestidos de trovão
E mulheres relâmpagos

Altos funcionários, se querem um emprego
Galantes playboys, se não querem

Eles são felizes como as aves,
Os estrumes, as pedras

Mas que dêem passagem aos que fazem os mundos,
As sinfonias, os sonhos, as palavras
Que destróem e constróem

A esses, mais loucos do que as mães
Mais bêbados que os pais
Mais delinqüentes do que os filhos

E muito mais
Devorados por amores calcinantes

Que a esses deixem ao menos
O lugar no inferno

E basta

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Paineiras



veja o lugar tranqüilo   uma relva de montanha   não sei
na cidade desconfio   fico olhando para os lados   mesmo
distante da vista chinesa   bem longe desta cidade   eu
gostaria de ficar com você   afastado daqui
não há fichas de registro   não precisamos comer o farnel
na mesa do imperador   pergunto agora   você quer vir
comigo?
não responda
fique assim mesmo   escute ainda outras coisas
escute ainda outras coisas   veja as marcas   fictícias
trinta e oito?   apenas duas se confundem   o tiro
na mão de minha mãe entrou-me aqui no peito   marcou-me
de amor pelo meu pai
era médico e curava crianças antes de se meter com a bala
encontro-o algumas vezes quando vou comprar jornais   são
boas pessoas
giram muito essa manhã   as pessoas
os animais e o tiro   observo-os pelo canto da boca   meus
dentes
tentam captá-los   não responda ainda   pode ser
que chova muito   não serve de real esse solzinho geográfico
nem a cicatriz das folhas   nem sua face sardenta
à maneira da flor livre da campanha   o verde
me faz pensar   ficar com você aqui
e agora de olhos fechados por querer
a borboleta é azul   ela podia voar   diga pra mim
dentro da caixa podemos ficar quanto tempo
antes da coleção completar-se?   as pessoas e os animais
escorrega de você um pozinho gostoso   beijo sua boca
eu sinto você   ah!  como eu sinto você!
FOTOSSÍNTESE   veja o lugar   talvez uma relva
molhada por animais exigentes   repare agora que estamos
ficando distantes
não há vestígios   até o céu tem outras nuvens   sinta o fogo
escute ainda outras coisas   leia este livro escarlate com
asas imprecisas
fique assim mesmo   você fica muito bem
com antenas cor de prata

Prenda-me

                                                  Para Maria Helena


A intempestiva presença
Do tempo não impede
O suave sopro das bocas

No eco do Minuano
Retorna a notícia da ave

Perdidas penas preciosas
Procuram o ciúme do Sol
          (e queimam)
Mantém o sonho do céu
                         Incesto

O sopro na fresta
Da tua pirâmide adivinha
A antiguidade da pedra


Meu nome anunciado ao vento
Pelo tamanho do teu grito